Reproduzimos aqui a resposta a uma questão pertinente relativa a higiene pessoal e saúde, colocada e respondida no site Ciência 2.0
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Publicado em 13/11/2013 por Ciência 2.0
Pergunta submetida por: Bárbara
Silva
Respondida por: André Torres Cardoso,
Liliana Sousa Nanji, Diogo Medina e António Vaz Carneiro, do Centro
de Estudos de Medicina Baseada na Evidência/Faculdade de Medicina de Lisboa
Os antitranspirantes provocam cancro da mama? Mito ou verdade?
Um dos fatores de risco mais bem estabelecidos para o desenvolvimento e
progressão do cancro da mama é a exposição a estrogénios ou a substâncias com
efeito semelhante aos estrogénios. A teoria por detrás da questão colocada
baseia-se na hipótese da presença de substâncias com ação estrogénica nos
antitranspirantes poder levar ao aumento do risco de desenvolver cancro da
mama,1 e ainda no facto de a incidência de cancro ser superior
no quadrante súpero-externo da mama — coincidentemente, o local onde estes
cosméticos são aplicados2.
Analisemos então os constituintes dos antitranspirantes. Por um lado, estes cosméticos utilizam como princípio ativo alguns
componentes derivados do alumínio (nomeadamente cloridrato de alumínio), que ao
serem absorvidos pela pele podem induzir efeitos hormonais semelhantes aos
estrogénios.3,4 Contudo, a nossa pele absorve apenas uma ínfima
concentração destes componentes (0.012%), tendo inclusivamente sido demonstrado
que a concentração em sais de alumínio é idêntica tanto nos tecidos neoplásicos
como nos tecidos saudáveis envolventes, o que torna esta hipótese pouco
plausível.5 Por outro lado, outros compostos constituintes dos
antitranspirantes são os parabenos, que possuem igualmente a capacidade de
produzir efeitos semelhantes aos estrogénios nas células, ainda que a uma
escala muito menor aos estrogénios produzidos pelo corpo da mulher.6 Um
estudo científico de 2004 comprovou que os parabenos se acumulam nas células de
tecido mamário neoplásico, muito embora não se tenham esclarecido a origem
destes parabenos nem a relação entre a sua presença e o aparecimento de cancro.7
Olhemos agora para os estudos epidemiológicos disponíveis sobre o tema. Um estudo de 2002 efetuado em 1606 pacientes em Seattle (EUA)
demonstrou não existir aumento do risco de cancro da mama nas mulheres que
utilizavam antitranspirantes ou desodorizantes no seu dia-a-dia, nem mesmo
quando aplicados até 1h após depilação das axilas com lâmina.8 Por
outro lado, um outro estudo de 2003 efetuado em 437 mulheres diagnosticadas com
cancro da mama em Chicago (EUA) revelou que uma maior frequência na utilização
de antitranspirantes associada a depilação axilar, bem como o início precoce
desta prática (antes dos 16 anos de idade), se associava ao aparecimento de
cancro da mama em idades mais jovens.4 Contudo, este estudo não
incluiu um grupo controlo com mulheres sem cancro da mama que permitisse
comparar os 2 grupos populacionais, o que limita as conclusões que dele podem
ser retiradas. Um estudo de 2006 efetuado em 104 mulheres em Bagdade (Iraque)
concluiu que a utilização de antitranspirantes não se associa a um maior risco
de cancro da mama — indo ao encontro das conclusões retiradas pelo estudo de 2002
— enquanto que a utilização de contracetivos orais e a presença de antecedentes
familiares de cancro da mama se associavam a um aumento do risco para o
aparecimento deste tipo de cancro.9
Assim, considerando os dados referidos e ainda o parecer emitido pelo
National Cancer Institute7 dos EUA, podemos afirmar que:
• Não há evidência científica suficiente para estabelecer a relação
entre a utilização de antitranspirantes e o desenvolvimento de cancro da mama;
• Vários estudos desenvolvidos nesta temática apresentam resultados
não esclarecedores ou mesmo contraditórios entre si;
• É necessário desenvolver mais investigação para determinar se
substâncias como os parabenos ou os sais de alumínio têm ação ao nível do ADN
das células mamárias, causando mutações que podem levar ao desenvolvimento de
cancro da mama.
Referências
1. Darbre
PD. Environmental oestrogens, cosmetics and breast cancer. Best Pract Res Clin
Endocrinol Metab. 2006; 20(1):121-43.
2. Darbre
PD. Underarm cosmetics and breast cancer.Journal of Applied Toxicology.2003;
23(2):89–95.
3. Darbre
PD. Aluminium, antiperspirants and breast cancer.Journal of Inorganic
Biochemistry. 2005; 99(9):1912–1919.
4.
McGrath KG. An earlier age of breast cancer diagnosis related to more frequent
use of antiperspirants/deodorants and underarm shaving.European Journal of
Cancer.2003; 12(6):479–485.
5.
American Cancer Society. Antiperspirants and Breast Cancer Risk. 2013;http://www.cancer.org/cancer/cancercauses/othercarcinogens/athome/antiperspirants-and-breast-cancer-risk
6. Harvey
PW, Everett DJ. Significance of the detection of esters of p-hydroxybenzoic
acid (parabens) in human breast tumours.Journal of Applied Toxicology2004;
24(1):1–4.
7.
National Cancer Institute. Antiperspirants / Deodorants and Breast Cancer. 2008;http://www.cancer.gov/cancertopics/factsheet/Risk/AP-Deo#r1
8. Mirick
DK, Davis S, Thomas DB. Antiperspirant use and the risk of breast
cancer.Journal of the National Cancer Institute2002; 94(20):1578–1580.
9. Fakri S, Al-Azzawi A, Al-Tawil N. Antiperspirant
use as a risk factor for breast cancer in Iraq.Eastern Mediterranean Health
Journal2006; 12(3–4):478–482.
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