Reproduzimos um artigo do site Ciência 2.0 sobre parasitismo.
Porque é importante conhecermos melhor os pequenos insetos que nos têm como 'alvo' para podermos perceber o que é válido cientificamente e o que não passa de mitos. Inevitavelmente, teremos de aprender a conviver da melhor forma com ... os piolhos!
História e vida de um chato parasita Renata Silva
Convivemos com eles há milénios. E até em múmias de faraós foram encontrados. Falamos de insetos que nos são incómodos, fazendo por exemplo do couro cabeludo o seu habitat. Piolhos (Pediculus humanus capitis), pois claro.
Porque é importante conhecermos melhor os pequenos insetos que nos têm como 'alvo' para podermos perceber o que é válido cientificamente e o que não passa de mitos. Inevitavelmente, teremos de aprender a conviver da melhor forma com ... os piolhos!
Piolho do cabelo |
Convivemos com eles há milénios. E até em múmias de faraós foram encontrados. Falamos de insetos que nos são incómodos, fazendo por exemplo do couro cabeludo o seu habitat. Piolhos (Pediculus humanus capitis), pois claro.
Entre aqueles que melhor conhecemos existem mais de 5 mil espécies a nível mundial. “Podemos dividi-los em dois tipos: os que se alimentam de sangue – picadores – e os que se alimentam de células ou de fragmentos de pele –mastigadores”, começa por explicar José Grosso-Silva, entomólogo e investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO).
Enquanto os “picadores” se alimentam de mamíferos, a maioria dos piolhos do tipo “mastigador” parasita aves, em geral de uma só espécie. De entre os piolhos que têm o ser humano como hospedeiro existem subespécies especializadas no corpo (Pediculus humanus humanus) e uma espécie especializada na região púbica (Pthirus pubis).
Em comum possuem uma vantagem pelo facto de parasitarem animais de sangue quente– é que se encontram num ambiente favorável para o seu desenvolvimento, uma vez que lhes fornecem calor, acelerando o seu metabolismo e permitindo a sua atividade durante todo o ano.
Descendentes de formas aladas, perderam as suas asas devido à vida ectoparasitária. Os ovos dos piolhos demoram 4 dias a incubar e podem reproduzir-se durante todo o ano. “As fêmeas do piolho da cabeça depositam os ovos, conhecidos por lêndeas no cabelo, segregando uma substância que seca e endurece com o tempo”, adianta o especialista do CIBIO.
Por isso, nem a água, nem mesmo, sob algumas exceções, um champô específico, são capazes de as aniquilar. “O champô com inseticidas, em si, pode não ser suficiente, pois mata os piolhos adultos, mas se as lêndeas sobreviverem, vão incubar e desenvolver-se, mantendo-se assim a infestação no hospedeiro”, explicita José Grosso-Silva. Para as retirar aconselha-se o conhecido pente fino.
Piolhos podem resistir até 48 horas num objeto
Mas os piolhos têm ainda um outro truque na manga para ficarem bem presos ao hospedeiro do qual dependem. Trata-se de uma adaptação ao nível das patas, já que possuem unhas adaptadas ao tipo de cabelo. “Quando a unha fecha, deixa um canal que se ajusta ao cabelo, fazendo com que o piolho se consiga agarrar bastante bem”, explica.
Os piolhos podem viver entre 45 a 55 dias e conseguem estar até 48 horas sem se alimentarem, alojados por exemplo num chapéu de uma criança, numa escova ou num gancho. Contrariamente ao que se possa pensar o piolho não voa, nem salta. O que lhes basta é estar próximo com o cabelo ou entre cabelos o suficiente para se soltarem de um cabelo e se agarrarem de imediato ao outro que está ao lado.
Falta de higiene não é necessariamente mais apetecível para o piolho
E porque é que os piolhos são mais comuns nas crianças? É a pergunta que se coloca ainda. O especialista responde: “Porque existe uma maior facilidade de transmissão no caso das crianças pela proximidade física com que brincam e interagem e porque estas partilham diversos objetos como acessórios de cabelo ou chapéus”. Os picos de maior abundância têm a ver com alturas mais propícias ao contágio, por exemplo no regresso às aulas.
Os piolhos ainda são um assunto tabu na nossa sociedade. José Grosso-Silva não hesita em dizer que a falta de higiene não está associada a uma maior presença de piolhos. Até antes pelo contrário: “Uma cabeça limpa e não oleosa poderá até ser mais apetecível para o piolho porque ele precisa de furar a pele e, portanto, quanto mais limpo estiver o couro cabeludo melhor”.
A presença dos piolhos é incómoda devido à comichão e ardor que se sente na pele. Ora, só a sentimos porque o piolho tem mais uma defesa. Para não ficar agarrado ao couro cabeludo devido à coagulação do sangue, este injeta saliva com substâncias anticoagulantes responsáveis pela sensação de incómodo que é sentida.
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