Reproduzimos texto muito relevante da rubrica life&style bem-estar do jornal Público
Mudar os alimentos ou os comportamentos?
Estima-se que, na Europa, a má alimentação, o excesso de peso e a obesidade sejam responsáveis por 8 em cada 10 mortes.
Mudar os alimentos ou os comportamentos?
Estima-se que, na Europa, a má alimentação, o excesso de peso e a obesidade sejam responsáveis por 8 em cada 10 mortes.
As recomendações actuais para a alimentação surgem num contexto em que se reconhece que o afastamento de uma alimentação saudável e de padrões adequados de actividade física favorecem o aparecimento de doenças como a obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, cancro e osteoporose. É neste contexto que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem publicado relatórios sobre alimentação, nutrição e prevenção de doenças não transmissíveis, revendo e actualizando as principais recomendações internacionais nestes domínios, pesando os níveis de evidência existentes e a aprendizagem decorrente da implementação de intervenções estratégicas para reduzir aquelas doenças. De forma global, na Região Europeia da OMS, a má alimentação, o excesso de peso e a obesidade podem ser responsáveis por 8 em cada 10 mortes.
Numa reunião da OMS em Viena, - em que tivemos a oportunidade de estar presentes - em Julho, ministros da saúde, especialistas, representantes de instituições da saúde e academia, e organizações intergovernamentais encontraram-se para discutir políticas sobre nutrição, alimentação e actividade física para lidar com as doenças não transmissíveis. Essa reunião deu origem à “Declaração de Viena sobre nutrição e doenças não transmissíveis no contexto do quadro europeu do Saúde 2020”, onde os intervenientes concordaram sobre a importância de facilitar uma acção decisiva para prevenir e combater o sobrepeso, a obesidade e a desnutrição, bem como o suporte a sistemas que estimulem a alimentação saudável.
Uma das áreas de destaque para reduzir as doenças não transmissíveis é a preocupação prioritária com a ingestão excessiva de energia, gorduras saturadas e gorduras trans, açúcares livres e sal, bem como o baixo consumo de hortícolas e frutas. Destaca-se também o apelo ao desenvolvimento de alimentos saudáveis e adopção de medidas que diminuam a pressão do marketing em crianças relativamente a alimentos ricos em energia, saturados trans, açucares livres ou sal, bem como a implementação de abordagens que promovam a reformulação benéfica de produtos alimentares.
A melhoria do perfil nutricional dos produtos alimentares pode fazer-se nas diferentes fases da cadeia alimentar, desde a produção ao processamento, com inúmeras abordagens, como a fortificação ou a reformulação nutricional.
Para a reformulação da composição nutricional, os exemplos incluem a redução dos componentes anteriormente destacados na conferência da OMS, mas há também outras estratégias como a modificação da oferta alimentar e refeições fora de casa (de modo a que, por defeito, os oferecidos sejam os mais saudáveis e não o contrário), ou o desenvolvimento da comunicação das informações nutricionais nos alimentos. Contudo, estas mudanças não são simples e obrigarão a vencer inúmeros desafios, desde logo os de natureza tecnológica alimentar (por exemplo, na produção do queijo, o sal é um regulador importante para o fabrico, enquanto a diminuição da gordura em certos produtos pode comprometer as suas características organolépticas, tornando-os menos cremosos ou macios).
Ainda que a reformulação nutricional possa, por si só, não ser solução para todos os problemas relativos às doenças não transmissíveis, poderá ajudar na benéfica modificação da nossa alimentação.
Pedro Moreira
pedromoreira@fcna.up.pt
Nutricionista e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da Nutrição da Universidade do Porto
pedromoreira@fcna.up.pt
Nutricionista e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da Nutrição da Universidade do Porto
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