quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Ursos-de-água (Tardígrados): especialistas em sobrevivência!

   Reproduzimos um artigo do último número da Revista Parques e Vida Selvagem, edição do Parque Biológico de Gaia. 
   Os Tardígrados parecem ser verdadeiros sobreviventes no espaço e no tempo! Já tínhamos falado deles no LusoCiências, por sugestão da Ângela Ramos do 11ºB   (Organismos que vivem em condições extremas (Glaciares) e o fruto campeão do brilho!)


   Para o cidadão comum têm um nome pitoresco, os tardígrados —entre 23 e 25 de julho juntaram no auditório do Parque Biológico de Gaia uma centena de investigadores de todos os continentes

   Vinte e um países, 79 participantes, 35 apre- sentações, 40 pósteres: a síntese foi descrita por Diane Nelson, cientista norte- -americana, nas conclusões do evento, feitas de uma forma tão rigorosa quanto divertida. Mas, afinal, o que são estes bichos?
   «Os tardígrados são animais de pequenas dimensões (0,05 a 1,5 mm) que constituem um filo independente, aparentado com o grande grupo zoológico que inclui insetos, crustáceos, aracnídeos, miriápodes, que são os artrópodes», diz Paulo Fontoura, professor universitário, investigador e mentor do evento. Se se considerar a vida a uma escala significativa mais pequena encontramos este grupo, o dos tardígrados, seres pluricelu- lares aquáticos também conhecidos como “ursos-de-água” devido ao seu aspeto ao microscópio. Têm quatro pares de patas, invariavelmente com garras e um aparelho bucal complexo. Paulo Fontoura, um dos poucos investigado- res da área em Portugal, já contribuiu para a descoberta de uma dúzia de novas espécies nos últimos anos, tendo sido duas delas identificadas no Parque Biológico de Gaia.
   Em Portugal estão descritas perto de 66 espécies, mas o cidadão comum nunca ouviu falar tanto de tardígrados como quando a Agência Espacial Europeia os utilizou em experiências no Espaço, no âmbito do projeto TARDIS (TARDigrades In Space) e TARSE (TArdigrade Resistance to Space Effects). Estes animais participaram em várias missões, «tendo sido submetidos a experiências sobre sobrevivência em condições extremas, em espaço aberto, suportando o vácuo, raios cósmicos e radiações ultravioleta mil vezes superiores às da Terra».
   Uma das características destes pequenos animais é referida como criptobiose, algo que refere uma incrível capacidade de sobrevivência em condições adversas.
   
  Há espécies de tardígrados que, elucida Paulo Fontoura, «podem sobreviver à secura extrema, a temperaturas da ordem de -270 ºC». Como se não bastasse para serem fantásticos, «os tardígrados também são capazes de resistir a altas concentrações de substâncias tóxicas (álcool absoluto, por exemplo), ao vácuo, etc.». E depois «podem regressar ao estado ativo ao fim de cerca de uma dezena de anos em criptobiose». Estas capacidades típicas dos tardígrados abrem horizontes pragmáticos, «nomeadamente ao nível da reparação do ADN, com potencial aplicação em investigação médica (oncologia e envelhecimento) e biotecnológica».

   São muitos anos de evolução: aponta-se para uma «origem de há cerca de 600 milhões de anos, no Pré-Câmbrico». Tão antigos quanto atuais, o próximo simpó- sio internacional ficou marcado para dentro de três anos em Modena, na Itália. Organizado pelo Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e pelo Parque Biológico de Gaia o 12th International Symposium on Tardigrada verá os seus temas publicados pelo “Journal of Limnology”. As conferências internacionais sobre tardígrados vêm já do século passado, tendo começado em 1974, na cidade de Pallanza, Itália, em homenagem a G. Ramazzotti, na época o investigador mais conceituado desta área científica. Desde então, esta iniciativa de índole internacional junta dezenas de investigadores oriundos dos mais variados países e é organizada por instituições prestigiadas, a fim de debater temas como a filogenia e biologia molecular, a taxonomia, a biogeografia, a fisiologia e ecologia destes peculiares “ursos-de-água”.

Texto: Jorge Gomes



1 comentário: