segunda-feira, 12 de setembro de 2011

“Bartolomeu Lourenço de Gusmão - o padre inventor” - Edição no Brasil

   Foi, recentemente, lançado no Brasil o livro “Bartolomeu Lourenço de Gusmão - o padre inventor” que reúne documentação manuscrita existente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra sobre o referido sacerdote e cientista, bem como documentos da sua própria autoria. A edição exibe fac-símiles desses vários documentos e textos do notável físico português Carlos Fiolhais.



   “Três, se não quatro, vidas diferentes tem o padre Bartolomeu Lourenço, e uma só apenas quando dorme, que mesmo no sonho foi o padre que sobe ao altar e diz canonicamente a missa, se o académico tão estimado que vai incógnito el-rei ouvir-lhe a oração por trás do reposteiro, no vão da porta, se o inventor da máquina de voar ou dos vários modos esgotar sem gente as naus que fazem água, se esse outro homem conjunto, mordido de sustos e dúvidas, que é pregador na igreja, erudito na academia, cortesão no paço, visionário e irmão de gente mecânica e plebeia em S. Sebastião da Pedreira, e que torna ansiosamente ao sonho para reconstruir uma frágil, precária unidade, estilhaçada mal os olhos se lhe abrem, nem precisa estar em jejum como Blimunda.” (Memorial do Convento, 33ª edição, Caminho).

   É assim que, em Memorial do Convento, Saramago nos apresenta a figura de Bartolomeu Lourenço de Gusmão como o “padre voador” que, apesar de ser considerado louco (e “de louco todos temos um pouco”), não abandonou o seu sonho de voar – Tenho sido a risada da corte e dos poetas, um deles, Tomás Pinto Brandão, chamou ao meu invento coisa de vento que se há-de acabar cedo, se não fosse a protecção de el-rei não sei o que seria de mim, mas el-rei acreditou na minha máquina e tem consentido que, na quinta do duque Aveiro, a S. Sebastião da Pedreira, eu faça os meus experimentos” (Memorial do Convento, 33ª edição, Caminho, p.64). Mais adiante, no romance, o narrador recria o real, através da sua imaginação criadora e relembra o voo experimental da passarola, ao mesmo tempo que se apropria da voz do seu inventor – “e assim pôde ver afastar-se a terra a uma velocidade incrível, já mal se distinguia a quinta, logo perdida entre colinas, e aquilo além, que é, Lisboa, claro está, e o rio, oh, o mar, aquele mar por onde eu, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, vim por duas vezes do Brasil, o mar por onde viajei à Holanda, a que mais continentes da terra e do ar me levarás tu, máquina, o vento ruge-me aos ouvidos, nunca ave alguma subiu tão alto, se me visse el-rei, se me visse aquele Tomás Pinto Brandão que se riu de mim em verso, se o Santo Ofício me visse, saberiam todos que sou filho predilecto de Deus, eu sim, eu que estou subindo ao céu por obra do méu génio, por obra também dos olhos de Blimunda, se haverá no céu olhos como eles, por obra da mão direita de Baltasar, aqui te levo, Deus, um que também não tem a mão esquerda, Blimunda, Baltasar, venham ver, levantem-se daí, não tenham medo.” (p.198)


   Para alargar os conhecimentos sobre a recente obra publicada e a história deste padre inventor, podem aceder aqui.




   Este artigo foi enviado pela Professora Auxília Ramos, a quem agradecemos a colaboração neste Blog, que, sendo das Ciências e Tecnologias, é de tantos quantos queiram participar desta experiência, da divulgação da ciência, da palavra, do trabalho colaborativo. 



Sem comentários:

Enviar um comentário